Pela necessidade de locomoção ao trabalho me vi diante de uma inegável realidade: precisava ter uma moto.Corri,consegui essa máquina a quem dei o nome de "Midnight Hawk"(velha mania de dar nome à coisas)
Depois de ter posto as mãos nela eu já não aguentava a ansiedade de colocá-la na estrada,não vejo sentido em possuir uma moto e não pegar a estrada.Emfim peguei dois dias de folga,já tinha um destino em mente,o de sempre,Catende,a bela Catende,era só cair na diversão,sem horário,sem nenhum dever.
Diante da negativa no DETRAN,pensei: foda-se,tenho uma longa estrada pra curtir.Um breve trecho da PE-60,até voltar para o trecho antigo da 101 no Cabo,Novamente buracos e muito tráfego,aproveitei,então,para fazer uma parada num posto e completar o tanque do pássaro preto,precisava saber a autonomia da máquina.
Saio do Cabo e já estou na Charneca,agora sim,depois de três lombadas no trecho urbano,enfim,a estrada,já não havia mais medos,eu já estava no meio do salão,era a hora da dança.Apertei pouco,queria ir na casa dos 80km/h pois é uma 125cc não adianta forçar indo contra o vento e gastar mais combustível,fui nessa pegada até que olhei no retrovisor e notei uma Bros com dois ocupantes que insistiam em não me ultrapassar,na dúvida botei o punho no canto e comecei a rodar acima dos 90km/h,várias ultrapassagens,principalmente carretas,os carreteiros ao perceber que sou um viajante buzinam em solidariedade e eu respondo também buzinando.
Depois de muita carreira olho adiante e percebo algumas casas em sinal de que já estava chegando em Escada,o que me deixou bobo,não pensei que seria tão rápido,no meu retrovisor a Bros já havia desaparecido,o que me deixou mais tranquilo.
Passando adiante,mais vegetação,infinitos canaviais,a mesma paisagem que estava cansado de ver,mas de moto parece tudo novo,mais colorido,mais infinito.Continuo apertando bem e lamentando a minha "pretona" sofrer pra chegar aos 100km/h,nas subidas ela caia aos 80km/h.
Eis que estou diante de uma descida violenta,já sei,estou chegando em Ribeirão,nessa cidade não passamos por trecho urbano,pois a estrada corre por fora .Sou vitimado pela ansiedade,sempre que chego em Ribeirão me bate logo a vontade de ver Palmares,que já é quase 90% do caminho para Catende,mas nessa hora já estava completamente anestesiado,rindo à toa e falando sozinho.
Depois de curvas e mais curvas chego a Palmares,dei uma breve parada,pensei em cruzar a cidade por dentro,mas logo mudei de ideia. Dez minutos depois e parto para os últimos quilômetros de pista duplicada,após isso pego a PE-126,rodovia de pista simples onde muitos já perderam a vida,principalmente,em ultrapassagens mal feitas,sou obrigado a ultrapassar,nem me lembro mais qual veículo,aproveitei um dos poucos trechos de reta e depois fiquei preso atrás de um SUV até o trevo da Entrada de Catende,onde há um posto do BPRv,só não me pararam pois estavam ocupados com outros veículos(eles adoram parar motos).
Uns 2 quilômetros da PE-120 e chego ao meu destino, uma hora e quarenta minutos após ter saído do Cabo,finalmente Catende.Passei o sábado e o domingo em completa hospitalidade na companhia de Camila e Nando,além de cunhada,sogro,sogra,sobrinhas (adotivas),e claro dei umas voltas pela cidade,acabei marcando um slow ride com meu amigo Deco,de Catende pra São José da Coroa Grande,algo que o futuro se encarregará de realizar.
Na segunda feira troquei a tração da moto,já estava na hora,fiz o caminho inverso,com muita tristeza,sempre me sinto assim quando deixo Catende.Segui pela 126 até Palmares atrás de um caminhão,que insistia em não deixar ultrapassá-lo.Depois volto novamente à 101 duplicada,muito sol,um clima ótimo para uma viagem,ao passar pelos motoboys que ficam à margem da estrada,eles acenam,fazem todo tipo de gestos positivos ao perceber que você é um viajante.
Palmares,Ribeirão,Escada,tudo tranquilo,mas quando estou chegando ao Cabo o tempo fechou,alguém nesse universo achou que meu batismo estava muito fácil e derramou uma tempestade em cima de mim,as gotas de chuva causavam dor ao bater nos meus braços,fui obrigado a buscar abrigo à beira da pista e logo tenho companhia,outros caras de moto que já havia ultrapassado também param para estiar.
Como tinha trabalho ainda nesse dia decidi encarar a chuva,que durou até pouco depois da Charneca,daí em diante a viagem deixa de ser interessante,é quando se entra no trecho urbano da 101,veículos demais,buracos,barulho,enfim,a certeza que a diversão havia acabado.
Voltei pra casa,mais experiente e realizado,agora sim eu entendo o fascínio que muitos sentem por estar na estrada em duas rodas.Pude ter a certeza que uma vida sem perigo é uma vida sem graça(Kid Cegonha já dizia rsrsrs).
Ninguém pode dizer ser um bom apostador se em nenhum dia na vida resolveu apostar alto,além do que deveria. A vida me desafiou e eu dobrei a aposta.