terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Minha Primeira Motoviagem

Até há alguns meses eu era apenas um cara que morria de medo de possuir uma moto,achava fascinante,em outras mãos,não nas minhas.
Pela necessidade de locomoção ao trabalho me vi diante de uma inegável realidade: precisava ter uma moto.Corri,consegui essa máquina a quem dei o nome de "Midnight Hawk"(velha mania de dar nome à coisas)




Depois de ter posto as mãos nela eu já não aguentava a ansiedade de colocá-la na estrada,não vejo sentido em possuir uma moto e não pegar a estrada.Emfim peguei dois dias de folga,já tinha um destino em mente,o de sempre,Catende,a bela Catende,era só cair na diversão,sem horário,sem nenhum dever.

Antes de encarar a 101 rumo a Mata-Sul,um primeiro trecho meio complicado,buracos e muito tráfego até Prazeres,depois uma ida mais tranquila até o Cabo,onde fui tentar fazer a transferência da "caroneira" no posto do DETRAN.
Diante da negativa no DETRAN,pensei: foda-se,tenho uma longa estrada pra curtir.Um breve trecho da PE-60,até voltar para o trecho antigo da 101 no Cabo,Novamente buracos e muito tráfego,aproveitei,então,para fazer uma parada num posto e completar o tanque do pássaro preto,precisava saber a autonomia da máquina.
Saio do Cabo e já estou na Charneca,agora sim,depois de três lombadas no trecho urbano,enfim,a estrada,já não havia mais medos,eu já estava no meio do salão,era a hora da dança.Apertei pouco,queria ir na casa dos 80km/h pois é uma 125cc não adianta forçar indo contra o vento e gastar mais combustível,fui nessa pegada até que olhei no retrovisor e notei uma Bros com dois ocupantes que insistiam em não me ultrapassar,na dúvida botei o punho no canto e comecei a rodar acima dos 90km/h,várias ultrapassagens,principalmente carretas,os carreteiros ao perceber que sou um viajante buzinam em solidariedade e eu respondo também buzinando.
Depois de muita carreira olho adiante e percebo algumas casas em sinal de que já estava chegando em Escada,o que me deixou bobo,não pensei que seria tão rápido,no meu retrovisor a Bros já havia desaparecido,o que me deixou mais tranquilo.
Passando adiante,mais vegetação,infinitos canaviais,a mesma paisagem que estava cansado de ver,mas de moto parece tudo novo,mais colorido,mais infinito.Continuo apertando bem e lamentando a minha "pretona" sofrer pra chegar aos 100km/h,nas subidas ela caia aos 80km/h.
Eis que estou diante de uma descida violenta,já sei,estou chegando em Ribeirão,nessa cidade não passamos por trecho urbano,pois a estrada corre por fora .Sou vitimado pela ansiedade,sempre que chego em Ribeirão me bate logo a vontade de ver Palmares,que já é quase 90% do caminho para Catende,mas nessa hora já estava completamente anestesiado,rindo à toa e falando sozinho.
Depois de curvas e mais curvas chego a Palmares,dei uma breve parada,pensei em cruzar a cidade por dentro,mas logo mudei de ideia. Dez minutos depois e parto para os últimos quilômetros de pista duplicada,após isso pego a PE-126,rodovia de pista simples onde muitos já perderam a vida,principalmente,em ultrapassagens mal feitas,sou obrigado a ultrapassar,nem me lembro mais qual veículo,aproveitei um dos poucos trechos de reta e depois fiquei preso atrás de um SUV até o trevo da Entrada de Catende,onde há um posto do BPRv,só não me pararam pois estavam ocupados com outros veículos(eles adoram parar motos).
Uns 2 quilômetros da PE-120 e chego ao meu destino, uma hora e quarenta minutos após ter saído do Cabo,finalmente Catende.Passei o sábado e o domingo em completa hospitalidade na companhia de Camila e Nando,além de cunhada,sogro,sogra,sobrinhas (adotivas),e claro dei umas voltas pela cidade,acabei marcando um slow ride com meu amigo Deco,de Catende pra São José da Coroa Grande,algo que o futuro se encarregará de realizar.
Na segunda feira troquei a tração da moto,já estava na hora,fiz o caminho inverso,com muita tristeza,sempre me sinto assim quando deixo Catende.Segui pela 126 até Palmares atrás de um caminhão,que insistia em não deixar ultrapassá-lo.Depois volto novamente à 101 duplicada,muito sol,um clima ótimo para uma viagem,ao passar pelos motoboys que ficam à margem da estrada,eles acenam,fazem todo tipo de gestos positivos ao perceber que você é um viajante.
Palmares,Ribeirão,Escada,tudo tranquilo,mas quando estou chegando ao Cabo o tempo fechou,alguém nesse universo achou que meu batismo estava muito fácil e derramou uma tempestade em cima de mim,as gotas de chuva causavam dor ao bater nos meus braços,fui obrigado a buscar abrigo à beira da pista e logo tenho companhia,outros caras de moto que já havia ultrapassado também param para estiar.
Como tinha trabalho ainda nesse dia decidi encarar a chuva,que durou até pouco depois da Charneca,daí em diante a viagem deixa de ser interessante,é quando se entra no trecho urbano da 101,veículos demais,buracos,barulho,enfim,a certeza que a diversão havia acabado.
Voltei pra casa,mais experiente e realizado,agora sim eu entendo o fascínio que muitos sentem por estar na estrada em duas rodas.Pude ter a certeza que uma vida sem perigo é uma vida sem graça(Kid Cegonha já dizia rsrsrs).
Ninguém pode dizer ser um bom apostador se em nenhum dia na vida resolveu apostar alto,além do que deveria. A vida me desafiou e eu dobrei a aposta.